- Francisco, meu querido, você já aprendeu o que se celebra
na Páscoa?
Como ressurreição é uma palavra deveras complicada, tal qual
“reveion”, que ninguém sabe ao certo como se soletra, o garoto contornou a
dificuldade e respondeu:
- Páscoa, mamãe, é quando Jesus viveu de novo.
Após sua resposta sobreveio o mais absoluto silêncio que retrata
o desenvolvimento de um grande raciocínio. Francisco, elevou os olhos, buscando
respostas em sua pesquisa mental e perguntou:
- Mamãe, todo mundo vive de novo como Jesus viveu?
Hesito, repasso rapidamente minhas
convicções religiosas, encho-me de dúvidas e, ao final de uns três ou quatro
segundos de intensa reflexão, decidindo não ser esta a melhor hora para uma análise
crítica teológica, acabo optando por uma resposta mais simples, que na verdade de
simples não tem nada. Digo-lhe:
-Mais ou menos, Francisco. Todos
nós vamos viver de novo, mas será lá no céu com Jesus e apenas depois que
morrermos!
Engoli seco e esperei o efeito de
minha afirmação. Impressionante como a morte é um assunto complicado. Verdadeiro
tabu. Certa de que árduas perguntas viriam de meu filho, abordando a
mortalidade humana bem como o verdadeiro paradeiro de Deus e o correto endereço
do céu, preparei-me para o que pareceria se traduzir em uma verdadeira batalha
argumentativa.
Olhei para os olhos vorazes de
curiosidade de meu filho e esperei pelas perguntas que viriam. Poderiam ser
infinitas, e eu não tenho a resposta para nem meia dúzia delas. Pensei: é claro que ele vai querer saber
exatamente onde fica o céu, ou ainda como pode alguém morrer e viver de novo!
Socorro!
Confesso que me surpreendi com o
rumo que a conversa tomou. Francisco abordou outro ângulo da questão e disse:
- Mamãe, Jesus viveu de novo e
nunca mais morreu?
Confirmei a resposta, quem não o
faria? Então ele solta essa:
- Mas então ele fica por aí
voando, meio invisível? Como o Batman?
Uou!!! Da próxima vez vou me
contentar a perguntá-lo o que ele comeu no lanche, será mais fácil.