Antes que alguém possa pensar coisa diversa, antecipo-me e
respondo: Não, meus filhos ainda não atingiram a adolescência. Estamos ainda na
primeira infância e nos fatos recheados de graça e da adorável inocência.
Francisco está com 5 anos e no Primeiro Ano do ensino
fundamental. Dentre os importantes assuntos curriculares a turma está estudando
sobre o pelo dos animais. Já avançaram bastante no assunto e já descobriram que
vários bichos não têm pelos, como os passarinhos e os peixes. E em relação aos
pelos as crianças já sabem que há várias cores e tamanhos, como os dos gatos,
cavalos e cachorros.
Mas uma das mais interessantes surpresas dessa linha de
pesquisa foi a descoberta de que os humanos, categoria que inclui não só eles
mas os pais e as mães (os avôs, as avós e os primos, como bem observado por
alguns coleguinhas), também são dotados de pelos. A descoberta veio durante a
aula no momento em que a professora conduzia a pesquisa através da observação
de figuras, retratos e do próprio corpo dos alunos.
Inegável como é interessante o momento da descoberta da
criança, mas mais interessante é como a ingenuidade dessa descoberta pode
afetar nossa mais íntima intimidade. É que lá pelo meio da tal pesquisa um
coleguinha, para agregar à experiência, informou aos demais que o pai tinha
tanto pelo que até tinha um bigode embaixo do nariz. Prontamente a outra
coleguinha, no mesmo sentido da informação anterior do colega, participou aos
alunos que a mãe, tal qual o pai do outro, também tinha um bigodão, mas que de
vez em quando ela o depilava. Prosseguindo, um terceiro aluno, avançando nas
descobertas, e logo após essa última informação, contou à turma que seu pai
também depilava, mas que não era apenas o bigode.
A professora não quis me revelar quais crianças passaram tais
informações e tampouco as partes do corpo depiladas. Prontamente fiz um retrospecto
da minha vida após o nascimento de meus filhos buscando fatos depilatórios
comprometedores meus e de meu marido. Bem... não tenho bigode e meu marido não
se depila, pelos menos não a perna... e tampouco outras partes. Será que fui objeto de estudo da turma? O
medo estampado na minha cara revelou à professora a minha temeridade e ela,
solidária, me acalmou afirmando que o Francisco nada falara da mãe ou do pai.
Ufa!
Mas insisti e perguntei se meu filho havia de alguma forma
participado da aula. Então ela contou que uma das mais interessantes
curiosidades manifestadas pelos alunos
foi o fato do ser humano não ter pelos na palma da mão e que esse fato
gerou muita discussão.
Na hora não pude deixar de lembrar como a possibilidade de
existência de pelos nas mãos pôde, tempos atrás, se mostrar controversa e
temerosa para os adolescentes. Mas logo, me recuperando do breve devaneio,
conclui que decididamente vivemos em outra época. Voltei a dirigir a atenção à
professora que relatou as mais divertidas respostas. Contou-me que um dos
alunos acreditava que a ausência de pelos nas mãos era para que os copos de
vidro não escorregassem. Achei muito engraçado, mas confesso que a melhor de
todas as respostas que me foram reveladas veio de meu filho, segundo o qual não
temos pelos nas palmas das mãos para não sentir cócegas quando a fechamos!!