De vez em sempre me pego na mesma
auto indagação. Será que estamos providenciando a educação de nossos filhos com
os corretos valores. Tenho tentado sempre ensinar-lhes o que meus pais há tanto
já me ensinaram, assim como os pais deles em épocas mais remotas. Quando me aquieto
com uma resposta positiva, pois sempre tento lhes passar o que é correto, me
pego naquela segunda indagação. Quais são os valores realmente corretos? Se é
difícil eleger ou apontar os corretos valores a serem vividos, talvez o inverso
seja uma tarefa menos árdua. O errado, indiscutivelmente não é o certo.
Munida desse espirito educativo
vi-me sentada à mesa com meu filho mais novo, hoje com 4 anos, e a nossa frente
a tarefa de casa sobre a Páscoa.
A tarefa, destinada também aos
pais, envolvia uma conversa acerca do significado da Páscoa para depois a
criança desenvolver um desenho que retratasse os ensinamentos recém adquiridos.
Então começamos. Páscoa: ovo, coelho, chocolate... Todo ano a mesma coisa. E sempre me vejo diante da incerteza do significado
de cada um desses símbolos e da influência mercadológica e consumista que paira
sobre eles. Esses não parecem refletir os corretos valores a serem abordados. E
a Páscoa, então? Com abordá-la? Sobrou-me a ressurreição de Cristo ou êxodo do
povo hebreu do Egito.
Escolhi a primeira estória.
Deixei de lado o coelho, o ovo e o chocolate pelas razões já apontadas e
comecei: Era uma vez um homem muito
bonzinho que só praticava o bem e ajudava as pessoas. Seu nome era Jesus. Mas
havia algumas pessoas muito más que fizeram maldade a ele e acabaram pregando
Jesus em uma cruz. Jesus morreu crucificado e depois foi enterrado em uma tumba
..... A essa altura, considerando que minha estória tinha um pouco mais de
floreio, já dava para observar os olhos assustados e talvez até indignados de
meu filho: mas ele morreu, mamãe. Sim, Pedro, ele morreu... Continuei: depois que Jesus foi enterrado ele
ressuscitou... Ele o que mamãe? Ele ressuscitou
Pedro, ele viveu novamente ( assegurei-me em deixar muito claro que somente
Jesus e personagens de vídeo game têm esse poder) e em seguida Jesus foi para o céu se encontrar com Deus. Finda a
estória, conclui vitoriosa: e na Páscoa nós comemoramos a ressurreição de
Cristo, o dia em que ele viveu novamente e
foi para o céu.
Certa do dever cumprido, de ter
bravamente resistido ao achocolatado sabor desta data, prosseguimos à segunda
etapa da tarefa escolar. Observei o desenho que meu filho atentamente construía
e que deveria retratar nossa conversa. A julgar pelo seu interesse amplamente manifesto
pelo desenrolar da estória, certamente o desenho resultaria em uma cruz, ou uma
garatuja que ele apontaria como sendo Jesus. Curiosa, esperei pacientemente os
rabiscos se encontrarem em figuras que, embora desconexas para mim, para ele
faziam todo o sentido. Acabei! Proclamou
o garoto. Deitei meus olhos sobre a folha branca e vi algo parecido com uma
ameba marrom e próxima a ela outras amebas menores azuis e verdes. Havia ainda
alguns outros rabiscos assemelhados a ampliações de seres microscópicos que
circundavam o desenho. O que meu filho teria desenhado? A tumba? A cruz? Os homens
maus? Desisti de interpretar o abstratismo que jazia sobre a mesa e disse-lhe: Que
lindo Pedro! O que você desenhou? Ele, orgulhoso do desenho, mostrou-me os
valores aprendidos e com um enorme sorriso nos lábios decretou: é o brinquedo que vem dentro do ovo mamãe!
Hoje eu perdi.
(ilustração extraída de
"http://falaremverdade.blogspot.com.br/2011/04/
e-por-falar-em-verdade-coelhinho-da.html")