Há algum tempo venho me perguntando: Como sobrevivi?
Essa pergunta de tempos em tempos me assombra, e nesse início
de ano ela novamente me visitou, mas agora as circunstâncias a fizeram retornar
com toda a sua fúria. E eu volto a indagar a mim mesma: como sobrevivi? Como todos
nós sobrevivemos?
Como passamos ilesos pela nossa juventude? Por aquela época
feroz, dominada pelo desejo intenso de viver todas as possibilidades e aventuras,
pelo anseio ferrenho de não deixar a vida passar sem estar presente, sem se
fazer presente. Rodeados pelos amigos em festas e baladas, completamente expostos
na terra sem lei que são as tão esperadas noites de imensurável diversão.
Quando recordo momentos da minha vida, passados há quinze,
vinte anos, não consigo conter o sorriso recheado de contentamento e nostalgia.
A saudade senta-se a meu lado e juntas rimos das mais variadas situações
vividas dentre constrangimentos, alegrias e sandices praticadas naquele tempo
em que a imaturidade ou mesmo a fé em nós mesmos nos angariava super poderes,
capazes de nos proteger do tempo e do espaço, livrando-nos de quaisquer
infortúnios.
Hoje, logo após o riso, eu e ela - a saudade - não
conseguimos conter sentimentos opostos àquela alegria. A tristeza e o medo nos assolam.
Mais uma vez indago: como sobrevivi? Como passei incólume por aquela juventude?
E quando olho para meus filhos, hoje ainda com cinco e três anos de idade, o
medo se instala e torna turvo o futuro. Se de um lado pergunto-me como sobrevivemos,
de outro não posso deixar de formular a mesma pergunta, agora dirigida a um
futuro obscuro e temeroso. Um futuro tornado cada vez mais temido e que se
mostra incrustrado por obstáculos e armadilhas cada vez mais astutas.
Se o futuro a Deus pertence, rogo-Lhe que olhe por nossos
filhos. Que dê a eles a mão e o direcionamento necessários quando a razão lhes faltar,
que os protejam quando o mal se apresentar, que os levantem quando caírem e que
os impeçam de sucumbir quando se atirem à vida. Que eles também sobrevivam.
Amém.
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