domingo, 31 de dezembro de 2023

Indivíduos

 

E a vida segue seu curso. Como as águas imparáveis de um rio, a vida segue a passos lentos, moderados ou rápidos a depender do momento. Mas ela sempre segue.

Embora essa seja quase que uma máxima, sabida por todos, a verdadeira essência nela encerrada é apenas compreendida nos momentos em que se reúnem algumas condições necessárias. Um desses momentos é a compreensão de que os filhos cresceram.

Claro que sabemos que todos os dias nossos filhos pequenos deixam de ser tão pequenos. Sabemos que dia após dia aprendem novas coisas, desbravam novos caminhos, ganham estatura, peso, consciência.

Mas há um momento muito singular em que percebemos a densidade total desse ganho. Como se nos momentos anteriores o mundo estivesse girando mas de forma estática e de repente todo aquele movimento reprimido nos inundasse com uma força avassaladora para nos mostrar, nos apontar que esses seres humanos peculiares, os filhos, já não são mais os mesmos. E assim sendo, já pensam já agem e já vivem de suas próprias formas, orientados pelos próprios pensamentos. São verdadeiros indivíduos.

 

terça-feira, 18 de julho de 2023

A exata medida

 

Nasci com um probleminha de medida. Faltou-me a régua. Aquele instrumento que vem agregado ao corpo, à mente ou à alma... sei lá! Mas definitivamente faltou-me o sistema para a mensuração de muita coisa na vida. De seus regalos, de suas agruras. Por vezes, de não conseguir medir, chego a confundi-los, os presentes e as angústias que a vida nos proporciona...

Um dia ouvi que se “algo não pode ser medido é porque não existe”. Pois pra mim, aqui dentro do peito, não é assim e talvez seja justamente o inverso. De fato, não consigo medir muita coisa e não raro quando meço, o faço de forma inadequada. Mas posso garantir com todas as minhas forças (forças desmedidas, diga-se) que o que não pode ser medido pode sim existir, existe e muito. Medida não é a certeza da existência, definitivamente.

Talvez seja por isso que vez ou outra me transbordo em mim mesma. Quase me basto, mas nunca. Me olho, me reconheço, mas me falto. Me doo e me esgoto, mas me entrego ainda mais, porque há sempre mais para dar. Não me basto, mas ao mesmo tempo sobro, não procuro, mas estou em uma busca incessante.

De tanto sentir, chego a derradeira conclusão, provavelmente equivocada ou imensurável, de que talvez na vida não haja receitas certas, doses exatas, recipientes herméticos. Ela deve ser assim mesmo, livre, desmedida, leve, solta, selvagem.... e eu vou seguindo esse bicho inanimado que me leva, me joga e me faz feliz.... mesmo sem saber direito quanto, mas certamente muito. Quem sabe essa seja a exata medida.