Nasci com um probleminha de medida. Faltou-me a régua. Aquele
instrumento que vem agregado ao corpo, à mente ou à alma... sei lá! Mas
definitivamente faltou-me o sistema para a mensuração de muita coisa na vida.
De seus regalos, de suas agruras. Por vezes, de não conseguir medir, chego a
confundi-los, os presentes e as angústias que a vida nos proporciona...
Um dia ouvi que se “algo não pode ser medido é porque não
existe”. Pois pra mim, aqui dentro do peito, não é assim e talvez seja justamente
o inverso. De fato, não consigo medir muita coisa e não raro quando meço, o
faço de forma inadequada. Mas posso garantir com todas as minhas forças (forças
desmedidas, diga-se) que o que não pode ser medido pode sim existir, existe e
muito. Medida não é a certeza da existência, definitivamente.
Talvez seja por isso que vez ou outra me transbordo em mim
mesma. Quase me basto, mas nunca. Me olho, me reconheço, mas me falto. Me doo e
me esgoto, mas me entrego ainda mais, porque há sempre mais para dar. Não me
basto, mas ao mesmo tempo sobro, não procuro, mas estou em uma busca
incessante.
De tanto sentir, chego a derradeira conclusão, provavelmente
equivocada ou imensurável, de que talvez na vida não haja receitas certas,
doses exatas, recipientes herméticos. Ela deve ser assim mesmo, livre,
desmedida, leve, solta, selvagem.... e eu vou seguindo esse bicho inanimado que
me leva, me joga e me faz feliz.... mesmo sem saber direito quanto, mas
certamente muito. Quem sabe essa seja a exata medida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário