Escolhi a dedo a escola de meus filhos. Queria uma
boa escola, mas uma escola católica, que adotasse os melhores princípios
religiosos e da boa moral. Afinal sou católica, temente a Deus e, a bem da
verdade, a escola me pouparia de uma tarefa, ou ao menos me ajudaria a bem
desenvolve-la: educar meus filhos de acordo com os bons preceitos cristãos.
Devo admitir que dentro de meu propósito, a
instituição escolhida me surpreende positivamente, não sem razão toma como nome
o nome da mãe Dele.
Francisco tem se saído bem. Demonstra seus recentes
conhecimentos religiosos nas conversas e nas inteligentes e corriqueiras
observações infantis que permeiam nosso nada monótono cotidiano. Lembro certa
vez que ao brigar com o irmão mais novo chegou a adverti-lo afirmando que este
não iria para o céu... Talvez nessa tenha exagerado, mas o exemplo bem
demonstra seu avizinhamento com os assuntos relacionados à divindade.
E justamente numa discussão sobre essa temática
digladiavam-se certo dia Francisco e meu afilhado, Felipe. Diziam que Jesus
achava isso, que Deus achava aquilo, e assim iam numa conversa interminável e
de altíssimo nível filosófico para duas crianças de 5 anos recém feitos.
Eu mesma cheguei a me confundir a certa altura e,
ouvindo as considerações dos jovens rapazes, resolvi intervir rapidamente para
perguntar-lhes se eles se referiam a Deus ou a Jesus. À pergunta feita recebi
um duplo e sonoro "dãhh". Disseram os meninos em coro: "Ué, Deus
e Jesus são a mesma pessoa!". A palavra “são” soou muito enfática.
São? São a mesma pessoa? Perguntei a mim mesma!
Tentei resgatar os fundamentos da Santíssima Trindade, difícil isso. O mistério
central da fé e da vida cristã, verdade incompreensível, mas
relevada em Deus Todo Poderoso. Lembro da catequese que se refere à doutrina em
que Deus Único seria a junção do Pai, do Filho e do Espírito Santo, sendo o Pai
criador, o Filho salvador e o Espírito Santo santificador. Ou algo parecido.
Mas em assim sendo por que estariam os meninos se
referindo a Deus e a Jesus a um só tempo. Deus pode ser o Deus único, mas a
palavra também releva o Deus Pai. Admitir que falavam de Deus único
implicaria também admitir a procedência da observação dos meninos no sentido de
que seriam de fato a mesma pessoa, Deus e Jesus. Mas também e principalmente
seria admitir que já a essa altura da vida estivessem familiarizados com o
conceito de Santíssima Trindade. Será que estavam??? Será que a escola já
chegara a esse ponto?
Resgatei meus pensamentos do devaneio e, voltando à
luz da razão, conclui que obviamente ainda não sabiam o que era a Santíssima
Trindade, eu mesma (e toda a humanidade) tenho dificuldade em entender! Claro,
portanto, que se referiam ao Deus Pai. E, partindo dessa premissa aí sim eles
estariam errados na observação, pois partindo desse conceito Deus e Jesus
seriam pessoas distintas. Estabelecidos os pontos da controvérsia e
alcançada a solução para o caso expliquei aos meninos:
- Crianças, na verdade, Deus e Jesus não são a
mesma pessoa. Deus é pai de Jesus e Jesus é filho de Deus.
Quando proferi essas palavras a reação dos meninos
foi tamanha como se houvesse eu cometido a maior das heresias. Estaria eu
rompendo com o sistema filosófico religioso instituído pela escola por mim
eleita? Fabiana, chamei a mim mesma, acorde mulher, são apenas crianças...
ainda são apenas crianças.
Expliquei-lhes, então, que Jesus, o filho de Deus, veio a terra para salvar as pessoas, propagar o bem e combater o mal.
Expliquei-lhes, então, que Jesus, o filho de Deus, veio a terra para salvar as pessoas, propagar o bem e combater o mal.
Os meninos ficaram pensativos chegando a elevar os
olhos como se resgatassem na memória alguma informação correlata. E de fato
estavam, pois prontamente me censuraram, se entreolharam, e meu afilhado Felipe
me corrigiu dizendo:
- O filho de Deus que veio para a terra para
salvar as pessoas e combater o mal, madrinha? Esse é o THOR, aquele...
dos Vingadores!
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