A música diz “tristeza não tem
fim, felicidade sim...”
Será? Acho que não. Felicidade
não tem fim não. Ela é contínua, onipresente, poderosa e envolvente.
Mas às vezes nos enganamos,
pensamos que ela, a felicidade, deve se mostrar sempre em seu ápice, com todo o
seu esplendor, como se ela simplesmente nascesse assim, completa, ampla e
plena. Mas não. A felicidade se constrói. Tem que ser cultivada, regada,
cuidada. Como uma massa de pão que depois de misturada, tem que ser duramente
sovada para poder crescer até atingir o ponto de assadura para, ao fim,
tornar-se o delicioso pão, tenro, saboroso e quentinho, fazendo com que a
manteiga fresca derreta, e que se desmancha na boca num autêntico convite a um
rápido passeio pelo firmamento.
Esse é o ponto mais alto da
felicidade. Mas ela talvez não seja uniforme, linear, plana, como uma reta
insonsa e sem graça. Fosse uma estrada, definitivamente não teria um traçado
reto em uma planície. Estaria desenhada em curvas sinuosas, não raro perigosas,
incrustada em encostas, por vezes sob rochas, percorrendo subidas e descidas
íngremes e revelando a cada centímetro densas paisagens repletas de beleza. Não
seria um desenho de traço regular em preto e branco. Ao contrário, seria feita
de diversas linhas de diferentes calibres, colorido por mil cores de crayon,
aquarela e cera. Teria texturas diferentes e formato irregular, porém
encantador. E mesmo não concluído o desenho ou não percorrida a estrada
inteira, ela ainda assim seria felicidade. Talvez não tenha apenas chegado a
seu ápice.
E, voltando ao pão, assim como
devoramos todo os dias diversos deles, a felicidade também se revela a todo
momento, sob diferentes formatos e em distintas situações. Nem sempre em seu
esplendor máximo, é verdade, pois precisa de aperfeiçoamento, precisa ser
assada, montada como blocos de lego que se unem para alcançar o todo.
Esse auge nem sempre vivenciamos,
ele é o resultado do encadeamento de cada um dos momentos que a vida nos
propicia. Mas quando esse momento chega sabemos que ele é o resultado de um
monte de coisa junto. Ele vem com um sabor indescritível e temperado com
nostalgia, e todos os seus componentes, alguns até amargos, se revelam a um só
tempo, como fossem parte de um filme instantâneo, quase imperceptível, mas que
sabemos existir. E no momento em que esse auge é alcançado, os lábios tentam a
todo custo encontrar as orelhas em um sorriso de quase espasmo, incontrolável e
avassalador que faz com que o riso nos invada os olhos e o corpo inteiro. Cada
membro do corpo parece se mover em uma sintonia orquestrada e regida por ela, a
felicidade, que invade o sangue fazendo-o pulsar nas veias e a ecoar dentro do
peito em uma harmonia tamanha em que de repente, num breve piscar dos olhos,
tudo parece fazer sentido, como fosse um verdadeiro orgasmo da alma.
Descreveria a felicidade assim.
Felicidade não tem fim... tristeza sim.
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