Quando meus filhos começaram a andar, tratei logo de engatinhar pela casa inteira. O objetivo era identificar possíveis perigos que pudessem atrair seus olhares curiosos, evitando, assim, eventos indesejáveis.
Lembro-me de ter ficado impressionada
com a quantidade de armadilhas em potencial existentes em um lar. Dentre elas,
tomadas espalhadas pela casa inteira com buracos convidativos a encaixar pequenos
dedinhos, quinas de mesas e de gavetas perfeitas para uma boa trombada,
dobradiças de portas prontas para esmagar suas mãozinhas, pequenos objetos, sujeiras
e insetos no chão que facilmente passariam por comida, e, claro, a privada do
banheiro repleta de água para brincar.
Nessa missão desbravadora
do ambiente, meu olhar apenas se dirigia para o chão e para o que seria a
altura dos olhos das crianças. E assim nem me dei conta que criancinhas não
olham apenas para baixo, elas também erguem a cabeça, e ao fazê-lo revelam um
outro segmento de perigos. Foi exatamente o que se sucedeu com Pedro.
Quando descobriu o trinco
da porta ficou em êxtase. Deliciava-se em ficar puxando-o para baixo. Por vezes
se dependurava na porta como se quisesse se balançar agarrado a ele. A gente
via aquilo e achava engraçado. Como podia o mero trinco de uma porta ser tão
divertido. Em seguida eu ria de mim mesma. Afinal, gastava fortunas com aqueles
brinquedos Imaginex caríssimos quando um simples trinco preso em uma porta
fazia mais sucesso. Às vezes acho até que comprava os brinquedos em parte para
mim. Eram tão lindos. E de tão fofos que eram, hoje, já passados mais de dez
anos da primeira infância de meus filhos, recuso-me a doá-los. Talvez só não
brinque com eles porque não tenho com quem partilha-los...
Mas voltando ao trinco da
porta... certa vez, Pedro encontrava-se dependurado na porta do banheiro.
Brincava enquanto Nuna, sua babá, preparava seu banho. Uma banheira dentro do
box enchia com a água quente do chuveiro. O ambiente já estava meio esfumaçado
com o vapor da água quando Nuna, rapidamente, se dirigiu à despensa para pegar
um novo shampoo. E qual não foi nossa surpresa quando percebemos que Pedro,
além do trinco da porta, também passou a brincar com a chave.
Tão logo voltou da despensa,
Nuna já avistou Pedro virando e desvirando a chave da porta. O banheiro tinha
daquelas chaves que apenas travam por dentro. E assim que Nuna se deu conta
desse fato, apertou o passo e logo gritou.... “Pedro, não tranque a porta”.
Talvez a psicologia
reversa tivesse funcionado melhor, porque certamente a frase dela teve o efeito
contrário. Assim que a viu se aproximando a passos largos, ele rapidamente bateu
a porta e “clique”. Trancou por dentro.
Desespero! O primeiro
pensamento foi logo a privada. Ele ia acabar metendo a mão lá dentro e daí para
meter a mão na boca era um só movimento. Mas antes fosse essa a única
preocupação. Isso porque tão logo a porta fechou, com Pedro lá dentro, aquele
vapor todo já acumulado começou a escapar pela fresta por baixo. Foi quando o
medo real se apresentou. Toda aquela água quente caindo na banheira era um
cenário amedrontador. A criança tanto
poderia se queimar como ainda cair na banheira. E assim, uma miríade de catástrofes
em potencial passaram por nossas cabeças.
Gritávamos: “Pedro, abre
a porta”, “Pedro, não vai na banheira”, Pedro, não bota a mão na privada” e
ainda “Pedro, não encosta na tomada”. De dentro do ambiente, apenas o silêncio...
e o som da água.
Como nada do que era
falado adiantava, lembramos da sempre utilizada tática da faca sem ponta que se
encaixa perfeitamente na pequena fenda do dispositivo da fechadura que fica do
lado de fora. E então, foi justamente quando estávamos pegando a faca na
cozinha que Pedro finalmente abriu a porta.
Nesse exato momento
Francisco, o irmão mais velho, gritou “Nuna, o Pedro abriu”. Ela se virou, voltou correndo ao
banheiro ávida para salvá-lo. Mas assim que a viu, o moleque novamente se
trancou lá dentro. Tinha encontrado uma nova diversão. A de nos fazer entrar em
desespero. E nesse objetivo ele parecia seguir firmemente.
Enquanto repetíamos os
gritos de “Pedro, abre a porta” tentávamos abri-la por fora. Mas estava difícil.
A fenda não era muito profunda e a faca escorregava e, de outro lado, as mãos nervosas
já não respondiam de forma apropriada.
Passados alguns minutos, finalmente
conseguimos abri-la. De dentro do banheiro saiu um gurizinho, ainda em fraldas,
que ria sem parar. Divertia-se com a situação. Francisco, indignado e no auge
de seus cinco anos, aproveitava o papel de irmão maior e responsável. Quanto a nós, o alívio era temperado com a brabeza!
Mas Pedro estava tão fofo em sua risada
que não conseguimos sequer brigar com ele. Contudo, o fato não ficou sem providências.
A partir daquele dia arrancamos as chaves de todas as portas. E quanto ao banheiro, os
usuários passaram a ter que escorar a porta com o pé.
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