Na véspera do aniversário de 30
anos de minha irmã, auge do verão em Guaratuba, estávamos todos um tanto eufóricos
com a comemoração que se avizinhava de nossa mais nova balzaquiana.
Seu filho mais velho, Giovanni, meu afilhado,
não parava de festejar os louros da iminente festa que ocorreria no dia
seguinte. Dizia ele com seus então 4 anos de idade, meio que cantarolando as
palavras em um tom provocativo:
- Amanhã a mamãe vai fazer
aniversário, lalalala...
A cena era fofa. Tratei logo de participar
interagindo com o garoto. Perguntei-lhe:
- Então Gi, você sabe quanto anos
a mamãe vai fazer amanhã?
Prontamente ele solta um sonoro:
- Dãh!! Claro que sei. Ela vai
fazer dezoito!
Não pude conter meu riso quase histérico. Já
há muito a Lu não tem dezoito, o que na hora me causou uma certa tristeza, pois
já há muito mais não tenho eu esses mesmos dezoito. E, como madrinha que sou
dessa linda e inocente criança, resolvi contar-lhe a verdade, afastando-o da
mentira, do engano, do equívoco, os quais de nada valem nessa vida. Norteada
pelo cumprimento desse dever que no ato logo me impus, disse-lhe em seguida,
pausadamente e com firmeza:
- Meu querido, na verdade a mamãe fará 30 anos
amanhã e não dezoito!
Com a indignação da criança que tem o doce
roubado, olhou-me perplexo com lágrimas já rolando sob os olhos:
- Mentira, madrinha, a mamãe vai
fazer dezoito, não trinta, dezoito, viu!
Só faltou-lhe mostrar-me a língua. Mas não
hesitei, eu jamais desistiria de meu afilhado. Tenho que contar-lhe a verdade,
por mais dura que seja, pensei. Abordei o assunto de outra forma e
perguntei-lhe:
- Gi, quantas velinhas a mamãe
vai assoprar amanhã?
A tentativa foi em vão! Disse-me
com aquele tom de quem se dirige aos ignorantes:
- Claro que dezoito, né,
madrinha!
Quase desisti, mas como já disse, não poderia.
Afinal, ele é meu afilhado, meu sobrinho. Tenho que levar-lhe a verdade. Ele
tem que saber que a mãe trintará. E, de mais a mais, a preservação da verdade,
ao contrário da mentira, é um dos pilares de uma educação sólida e duradoura.
Tentarei uma vez mais, falei mentalmente. Dirigi-me a ele derradeiramente e
lancei-lhe a pergunta:
- Gi, veja bem. Quantos anos a
madrinha tem?
Enxugando seus olhos com as mãozinhas
rechonchudas falou-me:
- Você tem dezenove, madrinha!
Não pude conter o deleite. Todos aqueles
princípios pilares da educação caíram por terra. Constatei como pode ser doce a
mentira e afinal concordei com a sabedoria de meu pequeno infante:
-SIM GI, A MAMÃE FARÁ DEZOITO!
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