sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Mãe Profissional


Há algumas semanas meu filho deveria ir à escola com uma camiseta amarela - era "o dia do amarelo". Não tomei notas mentais dos recados da agenda e esqueci! A mãe profissional jamais esqueceria. Ela não só levou o dela com a camiseta amarela como ainda era uma nike novinha da seleção brasileira. Já meu filho foi com uma camiseta laranja que, por estar bastante desbotada, com uma boa dose de boa vontade poderia passar por amarela. Mas não era só, a tal camiseta era do tamanho 03 e ele está beirando os 05 anos de idade. Sim, era BEM pequena para ele.
Nesse dia gostei um pouquinho menos do amarelo! Espero que não resolvam homenagear todas as 36 cores da caixinha de lápis de cor... Desabafei com o texto abaixo:

Difícil imaginar que mulher alguma nunca antes tenha, em algum momento de sua vida, admirado uma colega, uma amiga ou uma conhecida qualquer pela profissão que exerce. Médicas, executivas de grandes empresas, empresárias de sucesso, enfim, profissões que despertam nossa admiração e por vezes mesmo a nossa inveja, ainda que seja apenas de vez em quando e sob a modalidade da quase inofensiva inveja ...branca. Eu admito: sim, já senti. Prossigo: não, ainda não superei.
Confesso que foi ao longo dos anos que descobri a profissão que mais admiro e .... verdade... mais invejo. Em relação a ela meu sentimento é algo que se poderia descrever com as seguintes indagações: “como é possível?” ou “qual a receita?” ou ainda “por que eu não consigo?”. Mas não falo de médicas, engenheiras, advogadas. Falo da profissão mais difícil de todas, falo da MÃE PROFISSIONAL.
Ao contrário do que se possa pensar, a mãe profissional não é apenas uma mãe. Tampouco é a mãe integral ou em tempo integral, do tipo de que não trabalha fora. A mãe profissional encerra um conceito muito mais complexo e profundo que isso. Ela é única, perfeita, quase utópica.
A mãe profissional pode ser assim descrita: dona de uma de beleza serena e de um sorriso leve e sincero. Desloca-se com seu filho verdadeiramente flutuando sobre o colorido chão da maternidade, ainda que sobre saltos altos e finos, sempre em câmera lenta, sem rugas na testa e com o volume da voz perfeitamente ajustado em seus lábios perfeitamente delineados pelo batom da alegria. Os movimentos dos braços são como os da bailarina e seus cabelos se movem como em um comercial de shampoo, exalando o sutil, mas inconfundível perfume da verdadeira felicidade.
A mãe profissional sempre lê a agenda escolar, toma notas mentais e por isso nunca, nunca esquece de levar à escola a imprescindível sucata reciclável para o desenvolvimento dos complexos trabalhos didáticos. Comparece às reuniões com exatos cinco minutos de antecedência e jamais se atrasa para a saída. Nunca teve vontade de esganar seu filho ou outra criança que tenha magoado sua criança. Ao contrário, consegue estender sua serenidade para além de suas fronteiras, passando a tranquilidade e acalmando as brincadeiras beligerantes dos pequenos, como se propagasse a paz universal.
Os amigos de seus filhos a adoram, pois ela, sim, os recebe em casa com brincadeiras e pipoca.
Supervisiona com excelência a execução da tarefa escolar do seu filho. Corrige sem interferir, ensina brincando e dirige a educação de modo contundente e imperceptível, provando que o paradoxo está aquém de sua expertise.
Não tem sono. E quando o tem, os filhos sequer percebem, pois esse mal apenas a acomete quando os pequenos já estão sonhado. Não tem fome, e quando a tem, ela também somente se manifesta quando os pequenos já estão alimentados. E em relação à alimentação jamais pensou em usar um chinelo como elemento persuasivo.
Mas o que mais impressiona é que a mãe profissional é esposa e muitas ainda trabalham fora. Oi seja, a mãe profissional também é mulher! Circunstâncias que as fazem ainda mais impressionantes e ainda mais admiráveis.
Percebo que a mãe profissional não é resultado de uma graduação ou pós- graduação qualquer. A mãe profissional é graduada na mais importante instituição de ensino: a vida. É laureada pela existência de seus filhos e é incansável no processo de aprendizado ao qual se submetem, renovado a cada dia, sempre permeado por desafios inéditos e com progressiva dificuldade, sendo incansavelmente testadas e avaliadas em provas, não bimestrais, mais diárias, que sua própria condição as impõe. 
Talvez algum dia eu atinja esse profissionalismo. Por ora considero-me ainda uma reles estagiária. Talvez meus filhos ainda me inspirem para que algum dia eu alcance esse nível que tanto admiro.

2 comentários:

  1. E vc conhece alguma? Eu nunca vi uma dessas (graças a Deus)!

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    1. Não, não conheço! E, como você diz, "graças a Deus"!!! Mas vez ou outra me deparo com algumas figuras que me passam justamente essa descrição e isso comumente ocorre diante das minhas muitas falhas. O melhor acredito seja ser a melhor mãe possível!

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